Nao vou ficar falando o quanto e' bom tirar o tenis e colocar um calcao de banho depois de 24 horas em avioes e aeroportos, passar parafina na prancha favorita (se chegar inteira) e pular na agua de cabeca para limpar todo aquele ranso da viagem. Nao vou ficar dando conselhos de como viajar barato, ou como evitar ser perseguido por um local que parece jogador de futebol americano. Nem vou mencionar que no final das contas parece facil falar outra lingua (depois de muitos anos parece ficar muito facil). Nao existe a minima chance de eu contar meus romances durante a jornada. Primeiro com uma gostosa modelo brasileira que desapareceu na distancia, depois com uma barbie americana qual a mae dava em cima de mim, depois com uma jovem-elegante estudante francesa que tem uma tia brasileira, depois com uma linda gerente de um restaurante italiano que fazia eu me sentir o rei de Roma, depois derramei lagrimas por uma brasileirinha sarada que partiu meu coracao...
Tambem nao vou contar como e' acordar no Hawaii com o barulho das ondas explodindo nos corais, e olhar para o mar e se dar conta de que as ondas estao duas vezes maiores do que o barulho que fazem.
Este ultimo inverno na California parecia um sonho. Para muitos este foi o melhor inverno de ondas da historia. Foram varios dias que eu saia do mar exausto, parava, olhava pro outside e pensava: "Minha vida e' um sonho!!" A temperatura da agua, que geralmente atrapalha de tao gelada, nesse ultimo inverno so' comecou a ficar congelante no final de fevereiro. Inumeros dias de alta qualidade de surf sem crowd. Picos quebrando com qualidade internacional a cinco minutos da minha casa. Teve dias que eu quase chorei por nao ter mais forcas de continuar surfando depois de uma sessao de duas horas e meia. Dizem que Blacks quebrou classico por 60 dias seguidos. Eu acredito porque os unicos dois dias que eu resolvi descer a montanha estava epico.
Nada que eu possa dizer aqui chega perto da real experiencia. Lembro de ter tomado banho de mar pelado no meio da noite com uma chilena em Montanita (Equador). Lembro perfeitamente do meu tubo em Uluwatu. Lembro do tubo que eu nao completei em Bingin e explodi nos corais tres vezes. Lembro de estar surfando 2 metros de onda, sozinho e salvar um nadador em Bondi beach, Sydney, Australia. Lembro de quase ter morrido na Praia da Joaquina surfando 10 pes com o Koy, Cabecinha, Viegas e Pokoto. Lembro de perder minha Rusty zerada para os pescadores da Praia do Rosa durante a epoca da tainha (Rafael Ramos foi o unico que saiu ileso desse ataque brutal). Lembro de uma sesssao no parcel de Baln. Camboriu com o Neco Padaratz, Charles Padaratz, Saulo Lyra no qual eu peguei as duas maiores ondas do dia (12 pes) segundo testemunhas. Lembro de uma sessao no meio do invernao, muito frio, nenhuma alma ao redor, so' eu, Viegas e Alemaozinho da Brava, ponta da Feiticeira com 8 a 10 pes. Lembro de uma sessao na laje no canto esquerdo do Naufragados com Marquinho Goncalves. Lembro que o tubo mais largo que eu ja peguei foi no Matadeiro, e o mais profundo e longo foi na Guarda. Lembro que meu melhor tubo de backside foi no meio da Joaca, com a rassa toda comentando. Lembro de quando surfei Raglan (NZ) classico com o sol se pondo no horizonte e a lua nascendo atras das montanhas. Lembro de muitas coisas. Muitas ja' nem lembro mais.
Nao interessa como, surfistas viajam. De uma forma ou de outra. A pe', de carro, de trem, de barco, de aviao, de onibus ou atraves de substancias toxicas, eles viajam. Derramei vinho na minha camiseta favorita e usei ela por uma semana sem tirar do corpo.
Tanto faz o que voce faz, tanto faz onde voce vai, tanto faz como voce vai fazer pra chegar la'. Vai!! Porque no final das contas quem nao viaja le apenas uma pagina.
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