Thursday, January 7, 2010
Um dos nossos maiores idolos...
(palavras de Dada Figueiredo)
Não conquistei muitos títulos, mas pelas manobras que fazia nas ondas era o mais ousado, o mais radical surfista. Enquanto o pessoal se enchia de medo de cair da prancha, eu não tinha temor de coisa nenhuma: arriscava tudo! Era como um showman. Quando chegava a hora da minha bateria, todo o mundo corria, exclamando: “É a bateria do Dadá! Ele vai disputar agora!” Havia uma competição específica para ver quem faria a manobra mais radical (expression session), que eu ganhava sempre – isso sempre antes das finais dos campeonatos.
Obtive alguns bons resultados internacionais nos poucos eventos que disputei, e em 1989, fiquei em 5º lugar no TDK Gotcha Pro no Hawaii, e também fui campeão carioca. Em 1992 ganhei uma etapa do campeonato brasileiro. Estava sempre entre os 16 melhores do Brasil e do Rio de Janeiro, conhecidos como Top Sixteen. Muita gente não tinha dúvida de que eu poderia fazer frente aos surfistas estrangeiros. Desfrutava bastante fama, e também, de certa forma, o respeito dos próprios competidores.
Era uma pessoa muito visada, pois estava sempre envolvido com muita bagunça. Fui preso uma vez, chegando num campeonato em Florianópolis (SC) às sete horas da manhã, voltando da delegacia. Logo no dia seguinte lá estava eu no jornal... Por ocasião da entrega de prêmios aparecia sempre bêbado, xingando com a maior ousadia todo mundo. Enfim, era um surfista de quem muita gente gostava, muitos odiavam.
Competia na África do Sul, nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Em 1990 me tornei o surfista mais bem pago do país. Ganhava dinheiro nos campeonatos, e como já era um dos 16 melhores, entrava ganhando bem. Isso porque os 32 primeiros no campeonato já entravam ganhando. Contava com o dinheiro dos patrocínios e também da premiação. Além disso fazia pranchas. Tinha uma grife, e minha condição de vida já era boa. Quanto às viagens, os patrocínios bancavam tudo; todo mês eu estava viajando. Quando saía da água a mídia já vinha em cima de mim: “Dadá! Dadá!”...
A minha marca – necrose social – já estava sendo imitada em Santos e no Nordeste. Dadá: o mais radical, punk, irreverente, jovem rebelde, contestador, que adotava diversos sinais exteriores de provocações, por completo desprezo aos valores estabelecidos pela sociedade. Na verdade, onde eu fosse tinha em meu encalço uma legião de seguidores... Muitos queriam tirar fotos comigo. Sabendo que eu bebia, iam chegando, me chamando para beber. Às vezes acontecia de me ver rodeando de muita gente maluca...
A minha vida no Surf só começou porque eu viajava com meu pai, e nós íamos muito para a beira de praia. Ele era diretor do Camping Club do Brasil. Ficávamos muito ali na Barra, num camping situado bem na beira da praia, que hoje nem existe mais. Com apenas 8 anos tentava ficar de pé na minha prancha de isopor. Com 11 anos ganhei do meu pai minha primeira prancha. Contudo depois não tinha mais dinheiro para comprar, razão por que comecei a consertar e a fazer pranchas.
Quando adolescente via meu pai brigando com a minha mãe. Ele era alcoólatra. Uma vez, saiu à noite e chegou no outro dia, batendo então demais nela. Cheguei a vê-lo tirar sangue da minha mãe. Cansado de suportar tantas brigas do meu pai passei a gostar muito de ir para a rua, e ao fazer isso comecei a cheirar cola. Não sei como descobri que cheirar cola dava onda. Passei a cheirar cola de sapateiro, cloreto de metileno, éter, benzina etc. Tinha muitas alucinações, resultado de assistir a tantos problemas na família e ansiar fugir a eles. A primeira vez que tive curiosidade de beber aconteceu por querer descobrir a razão pela qual meu pai bebia. Instigado pela curiosidade de saber o que acontecia com ele comecei a misturar vinho com soda e cerveja. Uma ocasião, numa festinha, tomei o maior porre, sendo obrigado a ir para o hospital e tomar glicose. A partir dali, sempre que bebia morria de medo de apagar. No entanto, à medida que ia surfando ia me dando muito bem nos campeonatos.
Em razão disso pensei: “É melhor eu parar de cheirar cola, porque isso vai acabar me atrapalhando... Estou começando a ganhar um dinheirinho, e estou gostando...” No entanto, quando acordava cedo e ia tomar café, já era aquela barra: meu pai reclamando de mim, falando contra todo mundo, um horror! O jeito então, sem pensar nas drogas, era ficar na praia o dia inteiro, só voltando para casa lá pelas 4, 5 horas da tarde. Nesse tempo eu tinha meus 17, 18 anos.
A Barra da Tijuca era então muito deserta. Eu via gente fumando maconha, roubando carro... Comecei a me misturar com esse pessoal. Só que eu não gostava de fumar maconha; meu negócio era surfar mesmo. No entanto, quando participava de umas festinhas acabava bebendo, e muito. Contudo no dia seguinte lá estava eu na praia. As pessoas me avisavam: “Você vai virar um alcoólatra, cara...” Mas eu não dava a menor bola...
E acabei virando alcoólatra mesmo!
Tudo começou com uma festinha aqui no final de semana, outra ali, outra acolá... Entrava de penetra nas festas, e fui gostando cada vez mais de ficar saindo. Minha vida então passou a ser: surf de dia, e festa à noite, sempre bebendo. Resultado: aos poucos fui virando um verdadeiro alcoólatra. Passei a beber durante a semana; em todos os encontros sociais e entrega de prêmios eu tinha que estar alcoolizado.
Que horror: no tempo que teoricamente seria o auge da minha carreira, eu estava sempre alcoolizado. Ganhava o campeonato, vindo daí fama, televisão, o jornal e todo mundo enchendo a minha bola. Sucesso total! Entretanto, quando tudo chegava ao fim eu sentia um vazio enorme. Resultado: corria para o álcool. E quando eu perdia as competições? Por não saber lidar com o sentimento de perda, fatalmente bebia também. Em resumo: estava sempre afogando no álcool os meus sentimentos, a minha triste realidade. Não fumava maconha porque não gostava... De repente me via dominado por uma enorme preguiça; então, com o passar do tempo fui achando que estava velho, acabado, sem forças, morto, e até mesmo sem vontade de competir – aquilo que mais adorava fazer na vida...
Em 1990 eu, que ia sempre a shows punk, levei 12 facadas! Andava no meio dessas gangues. Sempre gostei do tipo de som pesado mesmo... Idolatrava essas bandas. Até hoje não sei como eu não morri... Foi incrível... Passei então a cheirar cocaína junto com álcool. Depois usei também ácido e outros tipos de droga. E, claro, brigava com os outros surfistas no dia... De 1992 a 1997 foi só vício. Foi quando tive que vender dois terrenos para poder continuar cheirando cocaína. A loja fechou e fui vendendo tudo que tinha, a fim de comprar a droga maldita. As coisas foram acabando, porque não entrava dinheiro. E fiquei realmente na pior...
A fama? O dinheiro? A galera? fiquei sozinho, meu camarada!...
Dali a pouco estava surtando. Não tinha jeito mesmo! Estava louco, louco varrido! Quebrava coisas dentro de casa, como televisão, pichava paredes com coisas horríveis, desenhos espantosos, coisas esquisitas, uma doideira!
Foi nessa fase negra que teve início minha vida ao lado da minha esposa.
Eu estava então usando a cocaína direto. Ela participou, pois, dos piores anos da minha vida. Acabei internado dois meses e três semanas.
Fiquei mais de um anos fazendo terapia, indo a grupos de AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos). E vivia triste, porque no fundo já não queria usar drogas. Só que não conseguia evitar. De dois em dois meses voltava a usar. A terapia não funcionou. E eu começara a voltar aos campeonatos... Estava mesmo precisando mudar...
E foi aí, num campeonato em Florianópolis (SC), que vi o Bita, outro surfista que fazia muito tempo era famoso. Ele estava de uma onda diferente da minha... Era um lance legal, doido também, mas onde não rolava droga, bebida, vício, tristeza, ódio, doideira, nada disso. Ele falava de Jesus...
Imagine só: eu Dadá Figueiredo, o cara mais louco da época, ouvindo um outro cara completamente louco falando de Jesus, amor e coisas desse tipo!...
Depois o Jojó, outro surfista campeão, também deu um testemunho... Aí o cara perguntou quem gostaria de aceitar a Jesus, e eu aceitei. Queria mudar de vida; topava qualquer parada. E foi o que eu fiz. Saí daquela reunião e usei droga de novo. No entanto, três dias depois experimentei uma sensação de arrependimento como jamais experimentei em toda a minha vida! Era algo diferente, mas eu não conseguia entender o quê... Voltei para casa e quase me internei de novo.
Tive uma baita recaída no Rio, e minha esposa me disse que eu tinha que voltar a me internar, ou ela não moraria mais comigo se eu continuasse daquele jeito... Até que num determinado dia, quem encontro no calçado? O Manga! Um grande amigo do Bita, que estava me procurando. Ele me ajudou muito. Comecei a visitar uma comunidade cristã. Comprei um livro cristão e fui para o Panamá, a fim de surfar e fazer uma matéria para uma revista. Aquele lugar tinha umas ondas perfeitas... O tal livro falava sobre a vida cristã e um novo padrão de comportamento. Eu o li umas três vezes, e fui tocado por Deus. Então, quando eu voltei para o Brasil me tornei um cristão de verdade.
Comecei a me sentir muito bem. Até disse pra minha mulher: “É melhor do que a terapia!” E com o tempo fui largando tudo. Nunca mais voltei para o NA. Depois larguei o terapeuta, que disse: “Você continua assim porque está bem, e não sai mais...”
Que foi feito da minha vida doida? Tudo, tudo mudou de verdade. Larguei a droga, larguei a bebida, larguei a doideira!
A relação com a minha esposa mudou completamente. Eu batia muito nela, e vivia traindo-a, mas com o tempo Deus foi restaurando tudo. Hoje estamos com três filhos. Quando ela me viu ficando legal se entregou a Jesus rapidinho! Ela viu como eu estava mal, me prostituindo para usar cocaína, tomando álcool com café, álcool de todo jeito e a toda hora, em todo os lugares, com as pessoas mais doidas. E ainda: se em três dias eu não cheirasse a cocaína, ficava muito louco. Eu xingava os patrocinadores porque não me pagavam, e outros que me haviam mandado embora em razão de minhas atitudes. Numa entrega de prêmios, o ambiente lotado, gritei: “Morte aos parasitas!” Pois foi aí mesmo que a galera me idolatrou mais ainda... Contudo toda essa loucura acabou quando Jesus entrou na minha vida.
Meu pai já faleceu, mas todos os domingos eu visito a minha mãe... Eu havia perdido o sentido de relação. No entanto Deus está restaurando a minha vida emocional, financeira e espiritual. Até a minha sogra recebeu a Jesus!
Hoje viajo com a minha banda para dar testemunho, tocar em lugares que funcionam como as clínicas. Em alguns deles as pessoas dizem: “Dadá Figueiredo vai tocar aqui...” Eu não digo nada que se trata de algo cristão. Então, quando a Banda Aliança Incorruptível chega e começa a falar de Jesus, ninguém entende nada... Todo ano fazemos o Night Surf. Já é o terceiro ano, e sempre aparece gente lá que me ouve falar de Jesus, e do milagre da minha libertação das drogas e a transformação na minha forma de pensar. Também da restauração que ele operou na minha vida no meu casamento.
O terapeuta de casais que consultávamos nos disse que o casamento não tinha mais jeito, porque eu estava ficando louco... Só que Deus é especialista em fazer tudo que está estragado ficar muito bom! Vivo agora uma nova fase, como um novo homem, com novas ondas. Inclusive minha vida financeira está sendo restaurada. Estou recomeçando a fazer roupas e pranchas. Estou com a minha banda e com esse projeto da Escolinha de Surf em frente à minha comunidade cristã – que é um campo de evangelismo meu. Sou um novo homem, e tudo mesmo, está hoje nas mãos de Deus!
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